segunda-feira, 6 de julho de 2015

BENEDITO POR BENEDITO


BENEDITO NICOLAU DOS SANTOS FILHO foi um historiador da cultura paranaense, que seguiu os passos do pai, BENEDITO NICOLAU DOS SANTOS. É do filho a autoria da obra ASPECTOS DA HISTÓRIA DO TEATRO NA CULTURA PARANAENSE, editado em 1979, volume que pode ser encontrado na Biblioteca do Círculo de Estudos Bandeirantes.

No Capítulo XVI, intitulado AS EXPRESSÕES CULTURAIS QUE FIZERAM O NOSSO TEATRO, o autor apresenta breves biografias dos principais expoentes da cultura paranaense e, entre estes, seu próprio pai, BENEDITO NICOLAU DOS SANTOS.



BENEDITO (pai) é apresentado por BENEDITO (filho), a fls. 201/213, nas seguintes palavras:



BENEDITO NICOLAU DOS SANTOS
Nascido em 10 de setembro de 1878.
Falecido em 9 de julho de 1956.
A cadeira nº 16 da Academia Paranaense de Letras tem como patrono Brasílio Itiberê da Cunha e como fundador, Paulo D’Assumpção, sendo ele o primeiro ocupante.
A cadeira º 23 da Academia Brasileira de Música foi fundada por Benedito Nicolau dos Santos e tem como patrono, Brasílio Itiberê da Cunha, (1848-1913), atualmente vaga.
Nasceu na cidade de Curitiba, filho de Manuel Gonçalves dos Santos de D. Benedita da Trindade Ribas. Aos oito anos de idade foi matriculado na Escola dos “Bons Meninos”, fundada e dirigida pelo professor José Cleto, concluindo, ali, seu curso primário. Passou para a Escola Normal, transferindo-se, logo depois para o Ginásio Paranaense, cujo curso, ali, não concluiu por motivo de saúde, para seguir, contra a sua vontade, a carreira comercial. Estudou, em companhia de Olívio Carnasciali, escrita e contabilidade mercantil, juntamente do contabilista e guarda livros Gabriel José do Nascimento.
Sentindo forte vocação artística, matriculou-se na Escola de Belas Artes do Paraná, dirigida pelo pintor português Antônio Mariano de Lima. Tomou lições particulares de música – solfejo, violino e piano – com o professor Joaquim Fernandes da Silva, de português e francês, com Justiniano de Melo e Silva, o de matemática, com o professor Alvaro Pereira Jorge e de alemão, com a professora Luiza Deck.
Ao atingir a maioridade, entrou na posse de um pequeno patrimônio, em propriedades que lhe foram legadas, usufruindo suficiente renda que lhe garantiu certa independência econômica. Pode, então, aperfeiçoar-se em música, estudando violoncelo com o mesmo maestro italiano Adolfo Corradi, harmonia e composição com o maestro espanhol Francisco Rodrigues Maiquez, compositor e regente da Companhia de Zarcuelas “Maria Alonso”, que ficou em Curitiba, lecionando piano e teoria, partiturando músicas para duas bandas militares. Por essa época, foi empregado auxiliar do Segundo Cartório do Tabelião de Notas e escrivão do Cível e Comércio do Gabriel Ribeiro. Organizou, por esse tempo, uma pequena orquestra de salão, ganhando a prática da composição ligeira e instrumentação.
Na Escola de Belas Artes, após o curso de três anos, integrou em prova final, o grupo selecionado cujos trabalhos de desenho a carvão, foram enviados à Exposição Universal de Chicago, onde a E.B.A.P., alcançou medalha de ouro. No período de 1902-1903, trabalhou, para experiência, no escritório de Firma Comercial Importadora de Leão Bueno & Cia. Abrindo-se, na ocasião, ma Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional, um concurso para empregos de Fazenda, nele se inscreveu, alcançando alta classificação. Foi, por isso, nomeado segundo escriturário da Alfândega de Paranaguá, em 19 de março de 1904.
No fim desse mesmo ano, foi designado para servir, como escrivão, na mesa de Rendas de Foz do Iguaçu, recém-criada. Seguiu, em março de 1905, em companhia de Manoel Azevedo de Silveira, um dos maiores poetas do simbolismo, no Brasil e autor do “Luar de Inverno”, que também fora nomeado administrador para a Colônia Militar, escalando por Montevidéu, Buenos Aires, Corrientes e Posadas. Dispensado da Comissão, foi mandado servir na Alfândega do Rio de Janeiro, no período de 1906 a 1907. No Rio, reiniciou seus estudos musicais com o maestro Cavalier Darbilly – diretor do Conservatório Livre, na ria do Carmo. Publicou, por essa época, suas primeiras composições – música de dança.
O intenso trabalho aduaneiro e as obsoletas teorias harmônicas do velho maestro desistimularam-no para prosseguir na carreira artística profissional e isso, quando por intermédio do maestro paranaense Bento Mossurunga, que dirigia o Teatro “Maison Moderne” lhe chegava a proposta de contrato da Empresa Pascoal Segretto, para dirigir o elenco artístico do Teatro Carlos Gomes. Decidiu-se pelo serviço público.
Em 1906, contraiu matrimônio com D. Maria Luiz Curial, de família curitibana, e retornou, em 1907, promovido a primeiro escriturário, à Alfândega de Paranaguá. Nesta antiga cidade, Benedito Nicolau dos Santos organizou uma pequena orquestra para a qual compunha músicas apropriadas ao cinema mudo e para funções religiosas. Nessa pequena orquestra, tocou Heitor Vila Lobos que, em Paranaguá, se deteve por algum tempo, em meio às suas andacás pelo Brasil e quando verificou a proficiência musical de Benedito Nicolau. Mais tarde, fixou-se, definitivamente, em sua cidade natal: Curitiba.
Tornou-se autodidata e dedicou-se, com perseverança a sérios estudos e pesquisas históricas, da ciência e das artes, mui especialmente sobre a música. Escreve, então, sua obra máxima – “Sonometria e Música” -, em quatro volumes, período de tempo, abrangendo os anos de 1916 a 1938, ano este em que começou a publicação desse trabalho que foi recebido, com acatamento e aplausos, pela crítica nacional e estrangeira. Apresentou esse trabalho em conferência no Rio de Janeiro, apresentado pelo musicólogo Luiz Heitor Correia de Azevedo. Como professor, lecionou português e outras matérias do curso ginasial, no Colégio Paroquial de Paranaguá. Em Curitiba, matérias do curso básico e as de finanças, na Academia Paranaense de Comércio e na Faculdade de Ciências Econômicas.
Foi um dos fundadores e organizadores do Círculo de Estudos Bandeirantes que muito tem influído na vida cultural do Paraná. Era membro da Academia Paranaense de Letras, do Centro de Letras do Paraná, membro correspondente do Instituto Histórico de Musicologia de Montevidéu, membro do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural do Paraná, membro da Academia José de Alencar e de outras associações Culturais, fora do Estado. Foi um dos fundadores da Sociedade de Socorro aos Necessitados de Curitiba.
Fundou, em Paranaguá, o jornal “Mensageiro” e o “Vigilante” e, em Curitiba, o jornal “O Cruzeiro”, todos de orientação católica. Colaborou nas revistas simbolistas “O Sapo” e “Azul” (1900 e 1901), no “Itararé” (1920-1921), “Marinha” de Paranaguá, “Prata da Casa”, “Véritas”, “Boletim Latino Americano”, de Montevidéu.

Em Curitiba, sua colaboração foi permanente na revista “Correio dos Ferroviários” e os jornais da época: “O Dia”, “Gazeta do Povo”, “Diário da Tarde”, escrevendo sobre os mais variados assuntos e, principalmente, como crítico musical, sob o pseudônimo de “Jack Lino”.
Foram suas principais produções: Obras de Musicologia: “Sonometria e Música” – 4 volumes, Livraria Mundial, Curitiba, 1931 a 1935. “A Pauta Sinfônica”, “A Pauta Sintética” -, inéditas. “Tertúlias Musicais”, em alguns fascículos e um livro didático às escolas, “Cantigas de Infância”, com letras do poeta Francisco Leite, em 1921.
Operetas: “Vovozinha”, com letra de Emiliano Perneta. Representada, pela primeira vez, no dia 13 de maio de 1917, no antigo Clube Literário de Paranaguá, depois em Curitiba e Ponta Grossa, em 1921. “Rosa Vermelha” em um ato, letra do poeta simbolista José Gelbeck. “Marumby”, opereta em três atos, letra do próprio autor, representada, pela primeira vez, em 19 de dezembro de 1928 no antigo Teatro Guaíra, pelo grupo teatral da Sociedade Renascença, sob o patrocínio do Dr. Alfonso Alves de Camargo, Presidente de Estado. E ainda, “Pequena Cantora” em três atos, letra do grande poeta Leôncio Correia.
Peças teatrais: “Erros do Coração” – comédia em três atos (1930) – “O Homem de Saia” – comédia de três atos (1932) – “Lição de Amiga” – comédia em um ato (1932) – “O Voto Feminino” – (1928). Formou com as outras, o volume “Teatro Inédito”.
Obras Diversas: “Normas e Fatos” – filosofia e crítica (1948 e 1949) – “Curitiba e o Ivo” - estudo sobre Curitiba antiga e seus chafarizes – “Lendas e Crônicas de Curitiba Antiga” – inédito. É de se mencionar, ainda, o trabalho “Retalhos do Passado”, da Revista da Academia Paranaense de Letras, 1948, de interesse para o estudo da figura do eminente filósofo paranaense Euzébio Silveira da Mota.


Nenhum comentário:

Postar um comentário