BENEDITO
NICOLAU DOS SANTOS FILHO
foi um historiador da cultura paranaense, que seguiu os passos do pai, BENEDITO
NICOLAU DOS SANTOS. É do filho a autoria da obra ASPECTOS
DA HISTÓRIA DO TEATRO NA CULTURA PARANAENSE,
editado em 1979, volume que pode ser encontrado na Biblioteca do Círculo de
Estudos Bandeirantes.
No Capítulo XVI, intitulado AS EXPRESSÕES CULTURAIS
QUE FIZERAM O NOSSO TEATRO,
o autor apresenta breves biografias dos principais expoentes da cultura
paranaense e, entre estes, seu próprio pai, BENEDITO NICOLAU DOS SANTOS.
BENEDITO
(pai) é apresentado por BENEDITO (filho),
a fls. 201/213, nas seguintes palavras:
BENEDITO NICOLAU DOS SANTOS
Nascido
em 10 de setembro de 1878.
Falecido
em 9 de julho de 1956.
A
cadeira nº 16 da Academia Paranaense de Letras tem como patrono Brasílio
Itiberê da Cunha e como fundador, Paulo D’Assumpção, sendo ele o primeiro
ocupante.
A
cadeira º 23 da Academia Brasileira de Música foi fundada por Benedito Nicolau
dos Santos e tem como patrono, Brasílio Itiberê da Cunha, (1848-1913),
atualmente vaga.
Nasceu
na cidade de Curitiba, filho de Manuel Gonçalves dos Santos de D. Benedita da
Trindade Ribas. Aos oito anos de idade foi matriculado na Escola dos “Bons
Meninos”, fundada e dirigida pelo professor José Cleto, concluindo, ali, seu
curso primário. Passou para a Escola Normal, transferindo-se, logo depois para
o Ginásio Paranaense, cujo curso, ali, não concluiu por motivo de saúde, para
seguir, contra a sua vontade, a carreira comercial. Estudou, em companhia de
Olívio Carnasciali, escrita e contabilidade mercantil, juntamente do
contabilista e guarda livros Gabriel José do Nascimento.
Sentindo
forte vocação artística, matriculou-se na Escola de Belas Artes do Paraná,
dirigida pelo pintor português Antônio Mariano de Lima. Tomou lições particulares
de música – solfejo, violino e piano – com o professor Joaquim Fernandes da
Silva, de português e francês, com Justiniano de Melo e Silva, o de matemática,
com o professor Alvaro Pereira Jorge e de alemão, com a professora Luiza Deck.
Ao
atingir a maioridade, entrou na posse de um pequeno patrimônio, em propriedades
que lhe foram legadas, usufruindo suficiente renda que lhe garantiu certa
independência econômica. Pode, então, aperfeiçoar-se em música, estudando
violoncelo com o mesmo maestro italiano Adolfo Corradi, harmonia e composição
com o maestro espanhol Francisco Rodrigues Maiquez, compositor e regente da
Companhia de Zarcuelas “Maria Alonso”, que ficou em Curitiba, lecionando piano
e teoria, partiturando músicas para duas bandas militares. Por essa época, foi
empregado auxiliar do Segundo Cartório do Tabelião de Notas e escrivão do Cível
e Comércio do Gabriel Ribeiro. Organizou, por esse tempo, uma pequena orquestra
de salão, ganhando a prática da composição ligeira e instrumentação.
Na
Escola de Belas Artes, após o curso de três anos, integrou em prova final, o
grupo selecionado cujos trabalhos de desenho a carvão, foram enviados à
Exposição Universal de Chicago, onde a E.B.A.P., alcançou medalha de ouro. No
período de 1902-1903, trabalhou, para experiência, no escritório de Firma
Comercial Importadora de Leão Bueno & Cia. Abrindo-se, na ocasião, ma
Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional, um concurso para empregos de Fazenda,
nele se inscreveu, alcançando alta classificação. Foi, por isso, nomeado
segundo escriturário da Alfândega de Paranaguá, em 19 de março de 1904.
No
fim desse mesmo ano, foi designado para servir, como escrivão, na mesa de
Rendas de Foz do Iguaçu, recém-criada. Seguiu, em março de 1905, em companhia
de Manoel Azevedo de Silveira, um dos maiores poetas do simbolismo, no Brasil e
autor do “Luar de Inverno”, que também fora nomeado administrador para a
Colônia Militar, escalando por Montevidéu, Buenos Aires, Corrientes e Posadas.
Dispensado da Comissão, foi mandado servir na Alfândega do Rio de Janeiro, no
período de 1906 a 1907. No Rio, reiniciou seus estudos musicais com o maestro Cavalier
Darbilly – diretor do Conservatório Livre, na ria do Carmo. Publicou, por essa
época, suas primeiras composições – música de dança.
O
intenso trabalho aduaneiro e as obsoletas teorias harmônicas do velho maestro
desistimularam-no para prosseguir na carreira artística profissional e isso,
quando por intermédio do maestro paranaense Bento Mossurunga, que dirigia o Teatro
“Maison Moderne” lhe chegava a proposta de contrato da Empresa Pascoal
Segretto, para dirigir o elenco artístico do Teatro Carlos Gomes. Decidiu-se
pelo serviço público.
Em
1906, contraiu matrimônio com D. Maria Luiz Curial, de família curitibana, e
retornou, em 1907, promovido a primeiro escriturário, à Alfândega de Paranaguá.
Nesta antiga cidade, Benedito Nicolau dos Santos organizou uma pequena
orquestra para a qual compunha músicas apropriadas ao cinema mudo e para
funções religiosas. Nessa pequena orquestra, tocou Heitor Vila Lobos que, em
Paranaguá, se deteve por algum tempo, em meio às suas andacás pelo Brasil e
quando verificou a proficiência musical de Benedito Nicolau. Mais tarde,
fixou-se, definitivamente, em sua cidade natal: Curitiba.
Tornou-se
autodidata e dedicou-se, com perseverança a sérios estudos e pesquisas
históricas, da ciência e das artes, mui especialmente sobre a música. Escreve,
então, sua obra máxima – “Sonometria e Música” -, em quatro volumes, período de
tempo, abrangendo os anos de 1916 a 1938, ano este em que começou a publicação
desse trabalho que foi recebido, com acatamento e aplausos, pela crítica
nacional e estrangeira. Apresentou esse trabalho em conferência no Rio de
Janeiro, apresentado pelo musicólogo Luiz Heitor Correia de Azevedo. Como
professor, lecionou português e outras matérias do curso ginasial, no Colégio
Paroquial de Paranaguá. Em Curitiba, matérias do curso básico e as de finanças,
na Academia Paranaense de Comércio e na Faculdade de Ciências Econômicas.
Foi
um dos fundadores e organizadores do Círculo de Estudos Bandeirantes que muito
tem influído na vida cultural do Paraná. Era membro da Academia Paranaense de
Letras, do Centro de Letras do Paraná, membro correspondente do Instituto
Histórico de Musicologia de Montevidéu, membro do Conselho de Defesa do
Patrimônio Cultural do Paraná, membro da Academia José de Alencar e de outras
associações Culturais, fora do Estado. Foi um dos fundadores da Sociedade de
Socorro aos Necessitados de Curitiba.
Fundou,
em Paranaguá, o jornal “Mensageiro” e o “Vigilante” e, em Curitiba, o jornal “O
Cruzeiro”, todos de orientação católica. Colaborou nas revistas simbolistas “O
Sapo” e “Azul” (1900 e 1901), no “Itararé” (1920-1921), “Marinha” de Paranaguá,
“Prata da Casa”, “Véritas”, “Boletim Latino Americano”, de Montevidéu.
Em
Curitiba, sua colaboração foi permanente na revista “Correio dos Ferroviários”
e os jornais da época: “O Dia”, “Gazeta do Povo”, “Diário da Tarde”, escrevendo
sobre os mais variados assuntos e, principalmente, como crítico musical, sob o
pseudônimo de “Jack Lino”.
Foram
suas principais produções: Obras de
Musicologia: “Sonometria e Música” – 4 volumes, Livraria Mundial, Curitiba,
1931 a 1935. “A Pauta Sinfônica”, “A Pauta Sintética” -, inéditas. “Tertúlias
Musicais”, em alguns fascículos e um livro didático às escolas, “Cantigas de
Infância”, com letras do poeta Francisco Leite, em 1921.
Operetas:
“Vovozinha”, com letra de Emiliano Perneta. Representada, pela primeira vez, no
dia 13 de maio de 1917, no antigo Clube Literário de Paranaguá, depois em
Curitiba e Ponta Grossa, em 1921. “Rosa Vermelha” em um ato, letra do poeta
simbolista José Gelbeck. “Marumby”, opereta em três atos, letra do próprio
autor, representada, pela primeira vez, em 19 de dezembro de 1928 no antigo
Teatro Guaíra, pelo grupo teatral da Sociedade Renascença, sob o patrocínio do
Dr. Alfonso Alves de Camargo, Presidente de Estado. E ainda, “Pequena Cantora”
em três atos, letra do grande poeta Leôncio Correia.
Peças teatrais:
“Erros do Coração” – comédia em três atos (1930) – “O Homem de Saia” – comédia de
três atos (1932) – “Lição de Amiga” – comédia em um ato (1932) – “O Voto
Feminino” – (1928). Formou com as outras, o volume “Teatro Inédito”.
Obras Diversas:
“Normas e Fatos” – filosofia e crítica (1948 e 1949) – “Curitiba e o Ivo” -
estudo sobre Curitiba antiga e seus chafarizes – “Lendas e Crônicas de Curitiba
Antiga” – inédito. É de se mencionar, ainda, o trabalho “Retalhos do Passado”,
da Revista da Academia Paranaense de Letras, 1948, de interesse para o estudo
da figura do eminente filósofo paranaense Euzébio Silveira da Mota.